quarta-feira, 17 de outubro de 2012

POLITIKÈ


Após um domingo de eleições, não há momento mais propício para se analisar a política em sua essência. Num breve ementário, até porque o tema, se estudado a fundo, geraria páginas infindáveis de discussões, começam-se a perceber a absoluta dissolução entre política e moral (ou ética). Na verdade, isso vem de longe. Aristóteles foi o primeiro filósofo a distinguir a ética da política, centrando a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade. 

Suplantando os exemplos filosóficos e as realidades de outros povos, a fim de concentrar nossa análise no Brasil, é de se verificar que a sociedade, de um modo geral e nos tempos que distam das épocas de eleição, sempre adere a um discurso ideológico. Em outras palavras, cada vez mais critica os maus políticos, os atos de corrupção, as condutas indecorosas, a falta de capacidade de governar e de legislar, a falta de conhecimento para a propositura de projetos de lei e tantas outras similitudes.

Contudo, como que num estado de hipnose, ao se aproximar do dia do pleito (e, na maioria das vezes no próprio dia), aceita todas as condutas que criticou durante meses (ou anos), muitas vezes fazendo parte da própria “fatia do bolo”. O voto deixa de ser um poder e um direito de quem o possui, deixa de ser uma conquista de quem precisa dele e passa a ser objeto de mercancia. No início do domingo começa valendo cerca de cem reais e, ao se aproximar do fim do dia, por qualquer cinqüenta já estão vendendo!

A consequência disto é a falta de compromisso, já que o voto foi pago no dia da eleição. Os quatro anos que seguirão, somente servirão para “repor o prejuízo da compra” e não para satisfazer os anseios da sociedade ou para honrar os compromissos assumidos (se é que houve algum).

Tal realidade me faz lembrar da célebre palestra advogado alemão Ferdinand Lassalle, ocasião em que, ao definir Constituição, afirmou se tratar de “fatores reais do poder”. Da mesma forma, me lembro do conceito de democracia, termo de origem grega, nascido na Atenas antiga, que significa “poder do povo”. Tudo isto para fazer referência ao termo “poder” e questionar:

Na política do Brasil, onde realmente reside o “poder”? Será que a eleição no Brasil pressupõe, necessariamente, poder econômico? Infelizmente, penso que sim!

Há quase duas décadas, um poeta lançou uma pergunta. Ele questionou: “que país é esse?” O poeta morreu, a pergunta ficou e, pessoalmente, acredito que ainda não temos a resposta. 

Mas algo mudou. Já começamos a condenar os “bandidos de colarinho branco”. Um homem íntegro, de origem humilde, corajoso e inteligente, integrante da nossa Corte Constitucional, deu o primeiro passo. Talvez, parafraseando Neil Armstrong, um pequeno passo para o homem, um grande salto para o Brasil. Quem sabe a sociedade siga seus passos para escolher seus representantes?!