A TV Câmara acabou de transmitir, ao vivo, a votação acerca do pedido de cassação de mandato da Deputada Federal Jaqueline Roriz. Assisti indignado ao resultado da votação; contudo não me surpreendi, infelizmente.
Dos 451 Deputados presentes à sessão, 166 votaram a favor da perda do mandato, 20 se abstiveram e, pasmem, 265 votaram contra a perda do mandato.
Inúmeras foram as provas divulgadas pela imprensa de todo o país, demonstrando que a deputada recebeu valores elevados de subornos, tendo em vista o poder de influência que possuía para beneficiar determinados interessados, culminando com desvio de cifras consideráveis de verba pública. Há imagens de vídeo que foram retransmitidas por todo o Brasil, mostrando a deputada recebendo o produto do “suborno”.
Apesar disto, numa votação SECRETA, a grande maioria dos deputados protegeu a “colega”. Parecem ter dito à sociedade: entre os interesses do povo e os nossos, protegeremos estes.
E a mais intrigante das constatações: ninguém sabe quais os deputados votaram contra a cassação, protegendo a deputada. As votações eram feitas diretamente no painel eletrônico, sem mencionar o nome do votante, e acontecia aos poucos, enquanto discutiam outros assuntos da ordem do dia.
E o pior foi ver o semblante de felicidade estampado na face da deputada, externando a certeza de que neste país tudo pode, tudo é permitido.
Isto me faz lembrar uma história que ouvi dizer, a respeito de um fato que teria acontecido numa cidade distante chamada “Aquarius”. Lá, o chefe da cidade comprou "kits" com o dinheiro público para distribuir a determinado segmento da população. Ocorre que o valor destes "kits" foi altamente superfaturado e desviado e não chegaram ao seu destino; ficaram guardados, por causa da irregularidade.
Alguns dos fiscais, que deveriam agir contra este chefe e a favor do povo, simplesmente se omitiram. Preferiram proteger seus próprios interesses, em detrimento dos interesses do povo daquela cidade.
O chefe continuou sendo chefe. Os fiscais resguardaram seus próprios e escusos interesses e o povo de “Aquarius”, indignado, “afundou” em suas próprias lamentações, assistindo, atônito, aos acontecimentos que se sucediam. Acreditaram no chefe e nos fiscais que elegeram, mas acabaram traídos.
Infelizmente, algumas pessoas se acostumaram com a corrupção, achando que isso é uma coisa normal, MAS NÃO É. Somente quando nos dermos conta de que somos fortes para lutar contra este mal é que começaremos a resgatar nossa dignidade.
Precisamos buscar uma representatividade íntegra, pautada em valores éticos e morais, que respeitem o mandato que receberam e que entendam que somente estão onde estão por um motivo: para defender os interesses do povo que os elegeu e não os seus próprios. Mas esta mudança de mentalidade precisa começar em cada um de nós, porque nós é que temos o poder da eleição.
“Aquarius” está diante de nossos olhos. Cabe-nos, portanto, duas alternativas: ficar observando a sujeira se solidificar em suas portas ou retirar dela aqueles que a degradam, outorgando o poder a quem, efetivamente, possua, em seu caráter, a competência e a coragem para mudar e resguardar os interesses daquele que é o verdadeiro titular do poder: O POVO.